Os veículos elétricos vieram para ficar. Com sua tecnologia limpa e silenciosa, eles representam um grande avanço rumo à mobilidade sustentável. No entanto, junto com os benefícios, surgem também novos desafios para a segurança de edificações, especialmente no que diz respeito ao carregamento das baterias de íons de lítio.
Por que as baterias de lítio podem causar incêndios?
As baterias de íons de lítio são amplamente utilizadas em carros elétricos por armazenarem grande quantidade de energia em pouco espaço. Essa característica é o que torna a tecnologia tão eficiente — e também o que aumenta os riscos em determinadas situações.
Quando sofrem danos físicos, sobrecarga, exposição ao calor ou falhas internas, essas baterias podem entrar em um processo chamado fuga térmica.
A fuga térmica é uma reação em cadeia dentro da célula da bateria, que gera calor intenso e libera gases inflamáveis. Em casos graves, o fogo pode se espalhar rapidamente e sustentar a queima mesmo sem a presença de oxigênio externo, o que dificulta o combate às chamas.
Risco de incêndios em veículos elétricos: mito ou realidade?
Segundo especialistas, os veículos elétricos não são mais propensos a incêndios do que os automóveis a combustão. A diferença está no comportamento do fogo quando ele ocorre.
Enquanto nos incêndios comuns basta eliminar calor, combustível ou oxigênio — o chamado “triângulo do fogo” —, nas baterias de lítio há ainda um quarto elemento, a reação química, formando o “tetraedro do fogo”.
Essa reação torna o incêndio muito mais resistente, exigindo grandes volumes de água e técnicas específicas para extinção. Além disso, mesmo após parecer controlado, o fogo pode reativar-se devido ao calor residual nas células da bateria.
E se um carro elétrico pegar fogo dentro de um edifício?
Esse é o ponto que mais preocupa engenheiros e gestores prediais. A maioria das edificações urbanas não foi projetada para lidar com incêndios de veículos elétricos, principalmente em garagens subterrâneas ou cobertas, onde há pouca ventilação e dificuldade de acesso dos bombeiros.
Uma nota técnica emitida pelo CREA de Sergipe alerta que, em casos de fuga térmica, as temperaturas podem ultrapassar 1.000 °C — valor muito acima do previsto nas normas tradicionais de incêndio.
A partir de 600 °C, o concreto já perde cerca de 55% de sua resistência à compressão, o que pode comprometer pilares, vigas e lajes, colocando em risco a integridade estrutural da edificação.
Essas constatações reforçam a necessidade de atualizar critérios de projeto, segurança e prevenção para edifícios que comportam pontos de recarga ou vagas destinadas a veículos elétricos.
Clique AQUI e leia na íntegra a nota técnica do CREA/SE.
Garagens com veículos elétricos: novos padrões de segurança
O Conselho Nacional de Comandantes-Gerais dos Corpos de Bombeiros Militares (CNCGBM | LIGABOM) publicou diretrizes específicas sobre segurança elétrica e operacional em áreas de recarga.
Entre as principais recomendações estão:
- Instalar ponto de desligamento manual para todas as estações de recarga, localizado a até 5 metros da entrada principal, escadas ou acessos da garagem.
- Prever também um ponto de desligamento junto a cada estação, a até 5 metros do equipamento.
- Implementar sinalização clara e visível indicando os pontos de recarga e seus respectivos disjuntores.
- Implantar sistemas de detecção de incêndio nas garagens, conforme as Instruções Técnicas vigentes.
- Instalar chuveiros automáticos (sprinklers) dimensionados como risco ordinário 2, com resposta rápida para o controle inicial das chamas.
Essas medidas são fundamentais para reduzir o risco e proteger tanto as pessoas quanto a estrutura da edificação. A nota técnica da LIGABOM em sua íntegra pode ser consultada neste endereço.
Conclusão: prevenção e engenharia caminham juntas
Com a rápida expansão dos veículos elétricos, é indispensável que síndicos, gestores prediais e engenheiros civis se atentem às novas exigências de segurança.
Planejar corretamente os pontos de recarga, garantir infraestrutura elétrica adequada e seguir as normas de prevenção contra incêndio são ações essenciais para promover uma transição segura e sustentável para a mobilidade elétrica.
Afinal, o futuro da mobilidade já chegou — e a engenharia tem papel fundamental em torná-lo mais seguro para todos.






